Na corda bamba, Rosso pode ficar fora de 2º
turno na Câmara
Com excesso de candidaturas entre aliados, deputado, antes favorito,
admite que candidatura pode naufragar já na primeira etapa
Por Laryssa BorgesMarcela Mattos / Veja
O deputado federal
Rogério Rosso (PSD-DF), antes da sessão que elegerá o novo presidente da Câmara
dos Deputados, em Brasília (DF) - 13/07/2016 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Após
intensa negociação com o Palácio do Planalto e com o chamado centrão, grupo de
12 legendas de apoio ao governo interino de Michel Temer, o deputado Rogério
Rosso (PSD-DF) lançou-se candidato à presidência da Câmara como o favorito para
vencer a disputa – e a vitória era esperada com relativa tranquilidade. Às
vésperas da votação, porém, a corrida pela sucessão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ)
aponta para um clima de total incerteza: aliados e o próprio Rosso já admitem
que o projeto pode morrer na praia. Neste cenário, ele sequer alcançaria o
inevitável segundo turno.
O
diagnóstico de enfraquecimento do favoritismo de Rosso se deve essencialmente à
pulverização de candidatos do maior bloco partidário na Câmara, que buscam no
mandato-tampão nacos de influência para projetos pessoais de poder, ainda que
todos sejam da base de sustentação do governo provisório de Michel Temer.
Minutos
antes de a sessão ser aberta formalmente no Plenário da Câmara dos Deputados,
articuladores do governo disparavam telefonemas em busca da contabilidade
parcial de votos. Avaliavam que, pouco antes das 17 horas de quarta-feira, o
deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) apareceria na liderança com relativa folga e
praticamente com os pés no segundo turno da disputa.
Publicamente,
o presidente interino Michel Temer mantém o discurso protocolar de que não pode
interferir na definição do sucessor do peemedebista Eduardo Cunha, embora opere
diretamente para evitar a todo custo a chegada ao segundo turno do deputado
Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde e aliado da presidente afastada
Dilma Rousseff. “Com tantos candidatos, votos vão fazer
falta”, disse um interlocutor de Temer. A cautela é justificada
pela necessidade de Temer implementar e ver aprovadas com urgência no Congresso
medidas de seu governo interino. E de resto sepultar o risco de prosperar um pedido de impeachment contra
ele – o tema adormeceu nas mãos do presidente Waldir Maranhão (PP-MA), a
despeito da ordem do Supremo Tribunal Federal (STF) para que o processo
seguisse adiante. “Se Temer pula publicamente para dentro da articulação,
repete o erro da Dilma, que viu o Eduardo Cunha vencer o Chinaglia [Arlindo
Chinaglia, candidato ao PT à presidência da Câmara]. Neste momento Temer não
pode fazer nem marola”, diz um governista.
Instantes
antes do início da votação, Rogério Rosso dedicou-se a fazer novos cálculos do
cenário previsto para esta quarta-feira. O líder do PSD avalia que o deputado
Rodrigo Maia, que conta com o apoio dos antigos partidos de oposição à
presidente afastada Dilma Rousseff, consiga somar 110 votos. Os mais otimistas
chegam a projetar 148 votos para Maia. Nos levantamentos parciais, Marcelo
Castro, apoiado por petistas, receberia 100 votos. Na sequência, o próprio
Rosso conseguiria no máximo 90 votos, ficando de fora da disputa final.
Com
experiência em mandatos-tampão – ele ocupou interinamente o governo do Distrito
Federal com a queda de José Roberto Arruda em 2010 –, Rosso ficou até a última
madrugada reunido com membros do centrão na tentativa de consenso interno.
Resultado: os deputados Beto Mansur (PRB-SP) e Fausto Pinato (PP-SP) anunciaram
a retirada da candidatura nesta manhã. No entanto, outros dois fortes deputados
do grande bloco partidário, Giacobo (PR-PR) e Espiridião Amin (PP-SC),
resistiram em recuar e mantiveram o racha do grupo.
É
esperado que Giacobo consiga o apoio quase majoritário do PR, que tem 43
deputados, e ainda de outros congressistas ligados a Valdemar Costa Neto,
senhor absoluto da legenda. Amin complicaria ainda mais o jogo ao atrair parte
dos votos de sua legenda e também de partidos da antiga oposição, como o PSDB.
Para além
do amplo racha entre partidos alinhados a Temer, os indícios de desidratação da
candidatura de Rogério Rosso são creditados também às revelações feitas por
VEJA de que duas testemunhas assistiram ao vídeo em que o deputado aparece recebendo propina do
ex-secretário do governo do Distrito Federal Durval Barbosa, delator da
Operação Caixa de Pandora e responsável pelo escândalo do mensalão do DEM no
DF. Na festa de aniversário do ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) nesta
terça-feira, um dos temores de apoiadores de Rosso era o de que o vídeo viesse
à tona a qualquer momento e eles sofressem desgaste por ter apoiado um
parlamentar que poderia ser confrontado com imagens em que embolsaria propina.
Em um
Congresso historicamente marcado pelo corporativismo e pelos altos índices de
traição em votações secretas, Rogério Rosso pode não ser mais o franco
favorito. Mas com 14 candidatos distintos, as barganhas de última hora serão
fator crucial para eleger o deputado que terá quase sete meses de minutos ao
sol no mandato-tampão pós-Eduardo Cunha.
PSDB, PPS, DEM e PSB anunciam apoio a Maia
Unidade do bloco foi possível após o deputado Júlio Delgado, do PSB de
Minas Gerais, desistir de sua candidatura
Por Da redação / Veja
O deputado federal
Rodrigo Maia (DEM-RJ) (Sérgio Lima/Folha Imagem/VEJA)
Após uma
breve reunião da bancada do PSDB na Câmara, os líderes do bloco da antiga
oposição – formado por PPS, DEM, PSB e tucanos – anunciaram em conjunto
oficialmente apoio a Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pelo comando da Casa. O
PSDB é dono da terceira maior bancada de deputados da Câmara, com 51
parlamentares.
A unidade
do bloco foi possível após o deputado Júlio Delgado, do PSB de Minas Gerais,
desistir de sua candidatura. “A decisão de apoiar Maia foi unânime na
bancada. Os 51 deputados decidiriam por aclamação”, afirmou Antônio Imbassahy
(BA), líder do PSDB na Câmara.
Em seu
discurso, Maia disse que o plenário da Câmara precisa “ter de volta sua
soberania”. “Queremos uma Câmara mais democrática e forte”, disse.
O líder
do PSB na Câmara, Paulo Foletto (ES), disse que a expectativa é de que 80% dos
deputados do partido apoiem Maia – em números absolutos, dos 33 parlamentares,
entre 26 e 27 votos devem ser dados a ele. Após se reunir com a bancada no
gabinete da liderança e receber a visita de alguns dos 17 candidatos inscritos,
Foletto disse, em entrevista coletiva, que a intenção inicial do partido era
fechar questão em torno da candidatura de Julio Delgado (PSB-MG), mas como o
nome dele “não encorpou” e o deputado retirou a candidatura, a bancada decidiu
orientar o voto em Maia. O objetivo, disse, é fortalecer o bloco da antiga
oposição
“Esse
movimento de bloco nós temos que valorizar neste momento em que há uma série de
candidaturas personalizadas que pode levar a um desastre”, disse Foletto, ao
ressalvar que não haverá unanimidade na bancada por se tratar de uma eleição
personalizada. “O PSB passa a ser decisivo numa eleição que pode ter um segundo
turno”, completou.
O líder
do PSB afirmou que a candidatura de Rogério Rosso (PSD-DF) é ligada a Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), que renunciou ao comando da Câmara na semana passada. Ele também
disse que a candidatura de Marcelo Castro (PMDB-PI) é ligada ao governo da
presidente afastada Dilma Rousseff.
“Nós
fomos muito discriminados pelo presidente (da Câmara) que está afastado e fomos
muito afastados pela presidente do Brasil que está afastada, não tiveram
nenhuma consideração até pela bancada que elegemos”, afirmou o socialista, ao
avaliar que os votos que não forem para Rodrigo Maia não devem ir para Rosso
nem para Castro.
Foletto
ressaltou que a bancada não quer nenhum “favorecimento” com essa escolha. “Não
é uma bancada que achaca e que vive atrás de emprego. É uma bancada que luta
pela melhoria”, disse.
(Com
Estadão Conteúdo)
Haver 11
candidatos da base é evidência de que governo não interferiu
E
continua não interferindo, a não ser para deixar claro que Castro é o candidato
do PT, não do PMDB
Por: Reinaldo Azevedo
O que significa haver 11 candidatos da base do governo à presidência da
Câmara? Ora, fica claro que o governo, de fato, não interferiu em favor desse
ou daquele. Também há um custo nisso? É claro que sim! Não há operação — ou não
operação — sem passivo. Mas podem acreditar que ter escolhido um nome teria
sido muito pior.
Dados os três nomes considerados viáveis, um só não seria bom para o
governo por motivos óbvios: Marcelo Castro (PMDB-PI). Ainda que seja um
candidato do partido ao qual pertence o presidente, todos sabem que está na
empreitada a mando do PT.
Rodrigo Maia é um bom nome para o governo? É. Vem de um núcleo do
governismo que é mais ideológico — e, portanto, menos instável. Mas a vantagem
também pode ser um problema: diminui a interlocução com o chamado Centrão, que
reúne 217 deputados. E se faz sobre Rosso um raciocínio espelhado: a
interlocução está garantida, mas sempre se estará lidando com um grupo sujeito
a trovoadas.
Maia também pode estar ligado a uma mirada de mais longo prazo. O PSDB,
por exemplo, não lançou candidato agora na esperança de que, em 2017, possa ter
um nome que conte com o apoio do governo — ou, ao menos, com a isenção.
Ah, sim: o Planalto continua a não interferir, a não ser para deixar
claro, nos bastidores, que Castro não pode vencer.
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